
Estudo traça panorama epidemiológico da tuberculose no Piauí e indica necessidade de novas ações de controle e vigilância da tuberculose no Piauí
A tuberculose é uma doença infectocontagiosa curável, com tratamento amplamente disponível no Brasil, mas que ainda apresenta desafios significativos em estados como o Piauí, onde é considerada endêmica, sobretudo em populações de baixa renda. A dissertação da médica infectologista Thallyta Maria Tavares Antunes, apresentada como trabalho de conclusão do mestrado profissional do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública (PPGESP) da ENSP/Fiocruz, traz à luz um panorama epidemiológico e reflexões sobre as limitações das ações de controle e vigilância da tuberculose no estado. Os resultados destacam a importância de direcionar recursos e intervenções para os municípios mais afetados. O PPGESP integra o consórcio para oferta do Programa VigiLabSaúde/Fiocruz.
De acordo com o estudo, no período de 2012 a 2022 foram registrados 7.722 novos casos de tuberculose no Piauí. Os casos foram predominantemente em homens, pessoas de cor/raça parda, com baixa escolaridade e residentes em áreas urbanas. A forma clínica mais comum foi a pulmonar, enquanto, entre as formas extrapulmonares, destacaram-se as pleurais e ganglionares. No mesmo período, ocorreram 685 óbitos relacionados à doença, sendo a maioria entre homens, indivíduos sem escolaridade e casados. Os óbitos ocorreram predominantemente em ambientes hospitalares, e a taxa de mortalidade foi mais elevada na população com mais de 15 anos.
A análise identificou uma relação positiva entre as taxas de incidência e mortalidade, embora a incidência explique apenas 13,08% da variação na taxa de mortalidade. Além disso, foi observada uma correlação moderada entre o aumento no número de casos e óbitos, sugerindo que períodos com maior notificação de casos tendem a registrar mais óbitos. A distribuição espacial dos casos e óbitos revelou desigualdades significativas entre as macrorregiões de saúde do estado.
As maiores taxas de incidência e mortalidade foram registradas nos seguintes municípios: Litoral: incidência elevada em Parnaíba, Bom Princípio do Piauí e Joca Marques; maior mortalidade em Ilha Grande, Carnaubais do Piauí e Milton Brandão; Meio-Norte: incidência mais alta em Cocal de Telha e Demerval Lobão; maior mortalidade em Coivaras; Semiárido: maiores incidências em Novo Oriente do Piauí e Colônia do Piauí; maior mortalidade em Novo Oriente do Piauí; e Cerrados: incidência elevada em Marcos Parente e Uruçuí; maior mortalidade em Pedro Laurentino.
O estudo demonstra que é necessário fortalecer as ações de controle da tuberculose no Piauí, com ênfase na detecção precoce, ampliação do acesso ao diagnóstico e promoção da adesão ao tratamento. Segundo Thallyta, a adoção de estratégias regionais e a utilização de ferramentas de análise espacial podem contribuir para uma resposta mais eficaz às necessidades locais, reduzindo as desigualdades e melhorando os indicadores de saúde.
A dissertação reafirma a relevância de estudos epidemiológicos para o planejamento e implementação de políticas públicas voltadas à erradicação da tuberculose. A pesquisa foi orientada pelo Prof. Dr. Luiz Antônio Bastos Camacho (DEMQS/ENSP/Fiocruz), com participação na banca examinadora dos professores Paulo Cesar Basta (DENSP/ENSP/Fiocruz) e José Uereles Braga (Instituto de Medicina Social - UERJ).