Estudo revela que, entre 2013 e 2022, apenas um dos seis indicadores de vigilância do sarampo e da rubéola no Brasil foi alcançado

O sarampo e a rubéola são doenças infecciosas caracterizadas por manchas na pele (exantema) que se espalham pelo corpo. Embora sejam imunopreveníveis, as duas doenças podem levar a complicações graves e até ao óbito. Pela importância para a saúde pública, elas estão entre as doenças presentes na iniciativa de Eliminação 30, pacto internacional para eliminação de 30 enfermidades infecciosas negligenciadas em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) monitora os países membros desse acordo com base em cinco linhas de evidência: imunidade populacional a contento, resposta da qualidade da vigilância, sustentabilidade dos programas, evidência da genotipagem e epidemiologia da doença. 

Nesse cenário, a enfermeira epidemiologista Maria Izabel Lopes analisou os fatores internos e externos que impactam no cumprimento das metas e indicadores de qualidade da vigilância do sarampo e da rubéola no Brasil, no período de 2013 a 2022. O estudo "Vigilância do sarampo e da rubéola no Brasil sob a ótica de metas e indicadores de qualidade: uma revisão integrativa" identificou que dos seis indicadores de vigilância, apenas um atingiu a meta no período avaliado. 

O trabalho também evidenciou que os fatores que impactam no alcance ou não das metas e indicadores abordados, estão presentes nos espaços internos e externos dos serviços de saúde, sejam de forma a contribuir positivamente ou, por vezes, de impacto contrário ao que se espera. Os resultados foram apresentados como trabalho de conclusão do Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Saúde da Fiocruz Brasília, que integra o consórcio para oferta do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz. 

Para chegar a essas conclusões, Izabel avaliou dados (números agregados, notificações e registros) do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI WEB) e do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), tendo acesso a dados secundários e solicitados via LAI. Foram avaliados nove indicadores (seis de vigilância, dois de laboratório e um de imunização) e metas já pactuados e previstas na literatura científica. 

O estudo demonstrou avanços e desafios no monitoramento dos indicadores analisados. A taxa de notificação atingiu a meta em seis anos, com destaque para 2018 a 2020, quando as maiores taxas foram registradas, alcançando 32% em 2019. O envio oportuno de dados cumpriu a meta nos três últimos anos, mesmo com quedas em 2021 e 2022. A investigação oportuna foi o indicador com melhor desempenho, atingindo a meta em todos os anos analisados, variando entre 89,4% em 2025 e 98,3% em 2016 e 2017. Em contrapartida, a homogeneidade da cobertura vacinal apresentou uma queda significativa ao longo dos anos, com pior resultado de 33,2% em 2021, evidenciando um cenário preocupante.

Entre os desafios, destaca-se a investigação adequada, que não atingiu a meta em nenhum dos anos, com melhor desempenho de 77,1% em 2018. A coleta oportuna apresentou variações, com pico de 77,4% e queda para 66,4%. O encerramento de casos por laboratório também ficou abaixo da meta ao longo dos dez anos analisados. Já a notificação negativa foi um dos poucos indicadores a cumprir a meta em alguns períodos, com 98,8% em 2015 e 80% em 2019. 

“Para o êxito da pactuação como problema de saúde pública e de interesse internacional, nos próximos anos, é essencial o apoio dos altos níveis da gestão e comprometimento dos serviços e profissionais de saúde para realizar o monitoramento contínuo. Há a necessidade de aprimoramento dos indicadores”, pontuou Izabel. O trabalho de Izabel foi orientado pelo professor Wagner de Jesus Martins, da Fiocruz Brasília, e contou com Vaneide Daciane Pedi, também da Fiocruz Brasília, como coorientadora.