
Estudo aponta encoleiramento como estratégia promissora no controle da leishmaniose visceral em Imperatriz (MA)
O estudo "O impacto parcial do projeto de encoleiramento canino no combate à leishmaniose visceral no município de Imperatriz-MA", conduzido pela enfermeira e gestora em vigilância em saúde, Suely da Silva Reis como trabalho do mestrado profissional do Programa VigiLabSaúde/Fiocruz avaliou os efeitos da utilização de coleiras impregnadas como estratégia complementar no controle da da LV humana e canina. Foi constatada uma redução de 91,5% nos casos de leishmaniose visceral humana (LVH) nas áreas priorizadas, apontando o encoleiramento canino como uma alternativa promissora e humanizada às práticas tradicionais. O trabalho também mostrou o impacto positivo na soroprevalência canina e na redução do número de eutanásias.
Segundo o estudo, o número de casos confirmados de LVH caiu de 47 no período pré- intervenção (de 2017 a 2021) para 4 casos no período pós-intervenção. Apesar de a cobertura do programa variar entre 30,1% e 48%, abaixo dos 90% recomendados pelo Ministério da Saúde, os resultados indicam o potencial do uso de coleiras impregnadas com deltametrina a 4%. A análise teve como objetivo contribuir para o aprimoramento das estratégias de controle da doença, levando em conta o contexto epidemiológico local e os desafios enfrentados na implementação de ações de saúde pública.
O estudo indicou que a intervenção, ainda em andamento, apresenta resultados promissores, embora preliminares. Mesmo com cobertura parcial, foi observada uma queda expressiva na incidência da LVH. Além disso, o perfil dos casos identificados em humanos foi majoritariamente em homens adultos jovens (20 a 49 anos), residentes em áreas urbanas, com alta taxa de coinfecção por HIV, um perfil que difere de outras regiões do Maranhão, onde crianças e idosos são mais afetados.
A pesquisadora destaca que o sucesso da medida depende de uma implementação coordenada e intersetorial com enfoque na vigilância integrada, articulação comunitária e diagnóstico precoce em humanos e animais. “A persistência de desafios logísticos e operacionais exige o aprimoramento na execução das ações”, explica Suely. O alcance da cobertura adequada e o diagnóstico precoce, tanto em humanos quanto em cães, são fundamentais para a redução sustentável da transmissão da LV.
“O estudo demonstra a importância dessa intervenção no fortalecimento das políticas públicas de saúde nos territórios endêmicos, contribuindo para um controle mais eficiente da LV e promovendo melhores condições de saúde para a população”, pontua Sueley. A pesquisa também apontou desafios operacionais, como atrasos na entrega de insumos, descontinuidade de ciclos e dificuldades na adesão da população, que limitaram a expansão da cobertura do encoleiramento.
Para chegar a essas conclusões, Suely utilizou dados secundários, coletados entre junho de 2022 e julho de 2024, a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e dos registros da Secretaria Municipal de Saúde dos Inquéritos Caninos.
A pesquisa considerou 12 bairros prioritários de Imperatriz (MA), escolhidos com base em critérios epidemiológicos e socioeconômicos, a partir de diretrizes estabelecidas pelo Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. Analisando os quatro primeiros ciclos do projeto de encoleiramento, realizados entre junho de 2022 e julho de 2024, nas áreas em questão.
O trabalho de Suely foi orientado pela professora Elainne Christine de Souza Gomes, do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco). Os resultados foram apresentados como trabalho de conclusão do Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública Fiocruz Pernambuco, que integra o consórcio para oferta do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz.
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