
Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz apoia Workshop Internacional sobre saúde humana, animal e ambiental
Capacitar profissionais de saúde para responder, de forma integrada, às necessidades da população é um dos pilares do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz. Nesse sentido, com apoio do Programa, foi realizado nos dias 26 e 27 de agosto de 2025, na Universidade Federal do Amapá – Campus Binacional Oiapoque, o workshop internacional “Saúde Humana, Animal e Ambiental: Integrando Saberes e Ações para a Prevenção das Doenças Zoonóticas na Fronteira Franco-Brasileira”. Os resultados e aprendizados do encontro serão apresentados na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que acontecerá de 10 a 21 de novembro, em Belém, ampliando o diálogo global sobre saúde única, mudanças climáticas e a proteção das populações mais vulneráveis.
O evento promoveu uma intensa troca de saberes sobre a vigilância da raiva humana e animal e da leishmaniose tegumentar, além de discussões acerca dos determinantes sociais e ambientais dessas doenças e de seus impactos no território. Participaram pesquisadores, profissionais de saúde humana, veterinária e ambiental, gestores públicos e representantes comunitários, incluindo povos indígenas e tradicionais do Oiapoque e de Cayenne (Guiana Francesa).
A cerimônia de abertura reuniu pesquisadores e gestores de instituições brasileiras e francesas. Entre eles, Silvia Maués, organizadora do evento, doutoranda do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz e técnica da Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá (SVS-AP), a professora Dra. Claudia Codeço (ENSP/Fiocruz) e o Dr. Emmanuel Roux (IRD/ESPACE-DEV, LMI Sentinela). O workshop fez parte de um conjunto de iniciativas voltadas ao fortalecimento da vigilância e à promoção da saúde na região de fronteira entre o Amapá e a Guiana Francesa.
A programação incluiu plenárias, painéis temáticos e atividades em grupo. Entre os destaques, a cartografia participativa e a co-construção de um calendário ecológico, foram ferramentas inovadoras que possibilitaram caracterizar localidades em Oiapoque e na Guiana Francesa, revelando dinâmicas sazonais e interanuais associados à ocorrência de Leishmaniose e raiva, ao mesmo tempo em evidenciaram vulnerabilidades sociais e ambientais que impactam diretamente as comunidades fronteiriças. De forma colaborativa, os participantes identificaram desafios e fortalezas para a implementação da vigilância em Saúde Única, organizados em quatro eixos estratégicos: detecção, prevenção, controle e comunicação. O exercício reforçou a importância de reconhecer percepções, práticas e representações locais no enfrentamento das zoonoses. “O diálogo ressaltou a relevância da abordagem de Uma Só Saúde, que integra saúde humana, animal e ambiental, e destacou o papel das instituições ambientais nesse processo”, afirmou Claudia Codeço .
O evento também trouxe o Painel de Iniciativas em Saúde Única, com a apresentação de ferramentas inovadoras para a região de fronteira, como o projeto MOSAIC, o Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA), um repositório de dados espaciais para vigilância e a plataforma SISS-Geo, dedicada ao monitoramento participativo de zoonoses silvestres em ambientes naturais, rurais e urbanos. “Mais do que um encontro acadêmico, tratou-se de uma ação estratégica que articula ciência, pesquisa aplicada e políticas públicas, em sintonia com projetos nacionais e internacionais que compartilham um mesmo objetivo: enfrentar os desafios sanitários em territórios complexos e vulneráveis”, ressaltou Emmanuel Roux.
Outro momento importante foi o debate sobre os impactos das mudanças ambientais e climáticas e da chegada de grandes projetos de desenvolvimento na Amazônia. Refletindo que tais transformações podem implicar riscos à saúde, reforçando a necessidade de fortalecer a resiliência comunitária e a capacidade de resposta dos sistemas locais, especialmente diante de desafios como saneamento, abastecimento de água, poluição, desmatamento e acesso aos serviços de saúde.
Na avaliação de Silvia Maués, o workshop representou um marco de cooperação transfronteiriça, pois promoveu integração intersetorial e valorizou conhecimentos comunitários e científicos. Para ela, a busca por soluções conjuntas frente às zoonoses e aos desafios da Amazônia foi um dos principais resultados do encontro.
COP30 - A COP 30 é considerada um dos principais eventos para o combate às mudanças climáticas. O encontro global anual reúne líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir ações voltadas ao tema.
As mudanças climáticas já afetam diretamente a saúde: poluição do ar e queimadas agravam doenças respiratórias; dengue, malária, leptospirose e diarreias se expandem; ondas de calor provocam mortes; desastres naturais e deslocamentos intensificam problemas de saúde mental; insegurança alimentar cresce com a redução da produção de alimentos; e a contaminação da água ameaça o saneamento básico.
Diante desses desafios, o encontro é uma oportunidade histórica de colocar a saúde no centro das estratégias de enfrentamento das mudanças do clima e debater sobre como fortalecer os sistemas de saúde, sobretudo para proteger as populações mais vulneráveis.
Por isso, os resultados e aprendizados do workshop internacional “Saúde Humana, Animal e Ambiental: Integrando Saberes e Ações para a Prevenção das Doenças Zoonóticas na Fronteira Franco-Brasileira” serão apresentados na 30ª COP, como contribuição ao debate sobre saúde e clima.