foto rivaldo e intérprete de libras

Desafios e perspectivas da vigilância laboratorial foi tema de palestra de abertura do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz

Ao longo das últimas décadas, o Brasil viveu uma série de emergências em saúde pública que impactaram diretamente a vida de milhares de pessoas e o sistema de saúde brasileiro. A reemergência da dengue, a pandemia do HIV/Aids, a cólera, a urbanização da leishmaniose, a Influenza H1N1, a Chikungunya e a zika, entre outras, e, mais recentemente, a Covid-19 e a monkeypox. Segundo o professor e pesquisador Rivaldo Venâncio, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, para saber como lidar com novas emergências de saúde pública de importância nacional e internacional é preciso olhar para o passado, para as emergências recentes. “Precisamos aprender com os acertos e os erros ao longo desse período. Olhar o que sofremos para construir as respostas adequadas e em tempo hábil para não repetirmos os erros que cometemos”, comentou na palestra que ministrou ontem (8/9) para os alunos do Programa em Saúde Pública com foco na vigilância, preparação e resposta a eventos de importância nacional (VigiLabSaúde-Fiocruz).

 

Rivaldo falou sobre os desafios e perspectivas da vigilância laboratorial na abertura da Semana de Recepção e Integração dos Alunos. Ele apresentou um breve histórico do Sistema Nacional de Laboratórios em Saúde Pública (SISLAB), com a Organização do Sistema em 1977, a formalização dos Laboratórios Centrais de Saúde Pública, em 1993, e a implantação da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB), em 1994. Mostrou como está conformada a Rede Fiocruz de Vigilância e Laboratórios de Referência e como a fundação contribui com aspectos diversos da vigilância em saúde em todas as regiões do país, desde a formação de profissionais do nível técnico à pós-graduação, o desenvolvimento de tecnologias, produção de insumos, registro da história da saúde, controle de qualidade e desenvolvimento de pesquisas.

Ao falar sobre os desafios atuais para a vigilância laboratorial, apresentou que fatores estão envolvidos principalmente na emergência de doenças infecciosas, como as mudanças ecológicas decorrentes do uso do solo e do desenvolvimento econômico - enchentes, seca, mudanças climáticas e desmatamentos. Mostrou que fatores relacionados à demografia e comportamento humano, como o crescimento populacional, a migração, as guerras e conflitos e a comportamento sexual desprotegido, estão intimamente ligados ao surgimento de novos problemas de saúde. A facilidade de descolamento de pessoas e mercadorias para comércio e viagens internacionais, assim como o uso indiscriminado de produtos fruto do desenvolvimento tecnológico e industrial, como novos antibióticos e imunossupressores, também precisam ser acompanhados assim como a mudança e adaptação microbiana, com cepas resistentes e surgimento de variantes.

Rivaldo Venâncio chamou a atenção, ainda, para a ruptura de medidas de saúde pública, a exemplo da desestruturação e descontinuidade de programas e medidas de prevenção, como o desestímulo à vacinação, e a carência de saneamento básico, problemas que são realidade em todas as regiões do Brasil e que precisam ser associados ao trabalho da vigilância laboratorial. “Precisamos entender a vigilância laboratorial como suporte para todas as demais vigilâncias. As clássicas vigilâncias ambiental, epidemiológica, sanitária e vigilância da saúde do trabalhador, e as mais recentes vigilâncias imunológica e genômica, não serão executadas se não estiverem intimamente vinculadas à vigilância laboratorial. Vocês são o sustentáculo de todas as outras vigilâncias”, comentou.

Ele também fez uma breve reflexão sobre o momento atual da saúde pública brasileira e convidou os alunos a conhecerem o documento a Carta aos Candidatos à Presidência e à Sociedade, elaborada pelo Conselho Deliberativo da Fiocruz e divulgada recentemente. Com o título Desenvolvimento Sustentável com Equidade, Saúde e Democracia, o documento busca contribuir para o debate eleitoral, a partir de dez diretrizes, que sintetizam um conjunto de propostas para campos diretamente relacionados à saúde dos brasileiros e ao desenvolvimento do país. A Carta foi encaminhada aos coordenadores de campanhas de todos os candidatos à Presidência da República.

A palestra do professor Rivaldo Venâncio na abertura da Semana de Recepção e Integração dos Alunos do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz pode ser conferida na íntegra no canal da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz no YouTube.