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Maior integração, formação, comunicação e participação estão entre os grandes desafios para o enfrentamento de emergências em saúde pública 

Poucas pessoas nos dias de hoje, mesmo as que atuam no campo da Saúde Pública, sabem que o Brasil conta com uma estrutura capilarizada, com processos definidos e que segue, o regulamento sanitário internacional para lidar com emergências em saúde pública de interesse nacional e internacional. No painel “Desafios atuais para o enfrentamento de endemias e pandemias/emergência em saúde pública em nível local, nacional e mundial”, realizando realizado na última sexta-feira (9/9) encerrando a Semana de Recepção e Integração dos Alunos do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz, ficou claro que essa capacidade instalada existe, vem sendo aperfeiçoada ao longo dos anos – e das crises sanitárias enfrentadas pelo país. Entretanto, os participantes do painel demonstraram em suas falas que essa rede ainda precisa receber investimentos e contar com a participação e comprometimento de profissionais de todas as três esferas governamentais e da iniciativa privada para poder alertar e atuar na detecção, verificação, avaliação, monitoramento e resposta a esses eventos que impactam não apenas a saúde, mas diversos aspectos da vida em sociedade.  

O painel contou com a participação do médico sanitarista, coordenador e pesquisador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz em Brasília, Claudio Maierovitch, e da coordenadora Geral de Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CGCIEVS) do Ministério da Saúde, Janaína Sallas. O debate contou com a participação do médico infectologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), André Siqueira, e mediação da coordenadora Acadêmica do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz, Andréa Sobral.  

“Nós tínhamos a ilusão de que o Brasil tinha estrutura e estava pronto para enfrentar uma emergência como a da Covid-19, mas a resposta depende de coordenação. Estados Unidos e Brasil negaram a existência da pandemia mesmo com a infraestrutura de ambos construída ao longo de décadas”, comentou Maierovitch. Ao longo do painel ele detalhou vários aspectos dos contextos político-ideológico e sanitário atual e o significado sanitário da globalização e seus impactos para além da saúde, impactando de forma determinante as áreas social, cultural, econômica e tecnológica. “Os esforços de formação e preparação ainda são insuficientes diante da velocidade das mudanças provocadas por esses fatores. Desde a criação do Regulamento Sanitário Internacional, seis Emergências de Saúde Pública de Importância Internacional foram declaradas pela Organização Mundial da Saúde, ameaças cada vez mais importantes e próximas umas das outras”, destacou.   

Ele apresentou como deve ser o processo de preparação para as emergências e citou o movimento e conceito "One World, One Health" (Um mundo, uma saúde), que vem ganhando cada vez mais notoriedade e que chama atenção para a necessidade de um olhar cada vez mais integrado entre a saúde humana/saúde pública, animal e ambiental. 

Por sua vez, na sua fala Janaína Salles mostrou que o Ministério da Saúde brasileiro conta com um departamento específico para tratar de emergências em saúde - o Departamento de Emergências em Saúde Pública (DEMSP), ao qual a sua coordenação está vinculada - e apresentou a VIGIAR SUS, rede instituída para ampliar, modernizar e fortalecer a Vigilância em Saúde na detecção, notificação verificação, monitoramento, avalição, alerta, comunicação, e resposta às Emergências em Saúde Pública. Ao apresentar o panorama da atuação e funcionamento desse sistema nacional, citou os novos desafios que se colocam com o aparecimento de novas epidemias, eventos de massa, desastres e doenças reemergentes. “A formação contínua de gestores e trabalhadores da saúde, a integração dos três níveis de gestão e a participação da população estão entre os desafios, assim como a integração internacional para o compartilhamento de informações para tomada de decisão”, elencou. Ela ressaltou, ainda, a necessidade de fortalecer ainda mais a capacidade laboratorial dos estados para poderem trabalhar o diagnóstico no âmbito do seu território.  

A coordenadora Geral de Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde também aproveitou para apresentar o Programa de Formação em Emergência em Saúde Pública (Profesp), voltado para estados e municípios e que tem o objetivo de promover o aperfeiçoamento do processo de resposta dos profissionais que estão na ponta, e o as portarias que estabeleceram o Plano de Fortalecimento e Ampliação da Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica e Hospitalar (Renaveh).  

Após os painéis, o infectologista André Siqueira comentou as explanações iniciais e ressaltou que o maior desafio realmente é detectar e responder aos eventos de forma oportuna e apropriada, já que o país tem o conhecimento teórico e prático do que funciona e não funciona. Ele apontou as fragilidades que precisam receber atenção como a maior a integração da assistência com o sistema nacional de vigilância na detecção dos agravos e nas respostas, ressaltando a necessidade de trabalhar em inovação e numa atuação que não dependa apenas das notificações prévias, mas da suspeição dos profissionais que atendem principalmente nas emergências e urgências.  

Ele também citou da necessidade de otimizar os recursos laboratoriais e as expertises instalados, o uso das experiências para a preparação para respostas a outros agravos que vão surgir e como ser mais efetivo nas respostas para levar menores prejuízos e minimizar os impactos para a sociedade.  

A exposição e o debate ocorrido no painel podem ser conferidos no vídeo da transmissão do evento feito pelo canal da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz no YouTube. Basta acessar por aqui.