Médico de jaleco branco, braços cruzados e estetoscópio na mão

Pesquisa mostra que dificuldades sociais e econômicas agravadas pela Covid-19 deixam mulheres vulneráveis ao HIV 

A pandemia de Covid-19 trouxe desafios extras para a prestação de serviços de saúde para populações vivendo com HIV/Aids. A pesquisadora Cristianne Bressan documentou as dificuldades enfrentadas por mulheres que recebem tratamento para HIV na região de fronteira do Brasil. O estudo mostrou que o estigma contra a doença, a rotatividade de profissionais de saúde e a falta de estrutura foram os principais problemas. Somam-se a eles, dificuldades que essa população já enfrentava antes do período de quarentena. Entre elas, a pobreza, a vulnerabilidade social e a violência doméstica. 

Para a análise, Cristianne Bressan estudou as ações empreendidas no município de Tabatinga (AM) para mitigar os efeitos da Covid-19 na prestação de assistência às mulheres com HIV de 2020 a 2022. A localidade faz fronteira com cidades na Colômbia e no Peru, por isso, conta com alto fluxo de pessoas, grande diversidade étnica e cultural, e muita desigualdade econômica. Todos esses fatores dificultam o atendimento de saúde.

A pesquisadora entrevistou pacientes em tratamento e detectou que a principal medida positiva adotada durante a pandemia foi a dispensação dos remédios de três em três meses. Por outro lado, elas relataram diversos problemas como o horário reduzido de atendimento nos postos de saúde, a suspensão dos serviços de transporte coletivos e a priorização da atenção à Covid nas unidades de saúde. Essas dificuldades fizeram com que algumas delas abandonassem, mesmo que temporariamente, o tratamento. Muitas não fizeram os exames de acompanhamento, que devem ser realizados de seis em seis meses.

Além dos problemas causados pela pandemia de Covid-19, as mulheres enfrentaram também obstáculos sociais e econômicos. Muitas reclamaram da localização do posto de saúde onde é feito os atendimentos para pessoas com HIV no município. Elas temem sofrer preconceito porque a população local sabe que o espaço recebe pacientes com a doença. A rotatividade de profissionais de saúde nesse posto também causou insegurança às pacientes. 

As mulheres pesquisadas são, prioritariamente, heterossexuais em relações monogâmicas que foram infectadas pelos parceiros. A pesquisadora alerta que a vulnerabilidade social e econômica das mulheres as colocam em risco, por estarem em posição frágil junto aos homens. A pesquisa de Cristianne Bressan mostra a necessidade de ações de saúde pública que compreendam e atendam todas essas particularidades regionais, sociais e econômicas.

O estudo foi qualitativo com aplicação de entrevistas roteirizadas com mulheres de 20 a 55 anos. Outros dados foram coletados no Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom).

No Brasil, tivemos 1 milhão de casos de HIV/Aids confirmados de 1980 a 2021. Atualmente, são em torno de 38 milhões de pessoas vivendo com HIV no país. O estado do Amazonas tem o maior número de casos, sendo 28,7 por cada 100 mil habitantes. 

A dissertação "Os efeitos da pandemia de Covid-19 em mulheres vivendo com HIV no território de fronteira " foi o trabalho de conclusão de Cristianne Bressan Vital de Souza no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), que faz parte do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz. O estudo foi orientado pelo professor doutor Júlio César Schweickardt. A banca foi composta pela professoras doutoras Michele Rocha El Kadri (ILMD/Fiocruz) e Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília


(Imagem: senivpetro / Freepik)