Estudo mostra a importância de fortalecer o combate à tuberculose nas áreas fronteiriças do Brasil
A tuberculose é curável, mas o Brasil ainda apresenta altas taxas de incidência e mortalidade pela doença. Para reverter esse quadro e oferecer melhor assistência de saúde à população, o país precisa reforçar ações de fronteira, fortalecer pesquisa e aprofundar o entendimento das características específicas de cada região. Essas são as conclusões do estudo de Tatiana Scheidt, apresentado na última semana.
A pesquisadora analisou o perfil epidemiológico dos portadores de tuberculose nas cidades gêmeas e nas faixas de fronteiras do Brasil de 2012 a 2021. O recorte de localização é importante porque a tuberculose é mais prevalente em áreas de vulnerabilidade social. Esse é o caso das áreas fronteiriças por conta da pobreza e do fluxo de pessoas. Esse risco é ainda maior nas chamadas cidades gêmeas, definidas como aglomerações urbanas que possuem mais de dois mil habitantes e ficam uma ao lado da outra, mas em países diferentes. O Brasil tem 16,9 mil km de fronteiras terrestres, com 10 países vizinhos, e 33 cidades-gêmeas.
No mapeamento, Tatiana Scheidt documentou o tipo de tuberculose, exames utilizados para detecção, como os casos entraram no Brasil, entre outros pontos. Esses dados foram cruzados com o perfil demográfico da população pesquisada. Conectar essas informações é importante porque alguns grupos sociais são mais vulneráveis que outros. Segundo o Ministério da Saúde, a população indígena, por exemplo, tem três vezes mais chance de pegar tuberculose e que esse risco é maior em regiões mais pobres do país.
A área de fronteira da Região Norte (chamada Arco Norte) tem mais casos em comparação com outras regiões do país. É também onde temos mais cidades gêmeas por região com sete municípios com essa característica. Essas cidades tiveram picos de tuberculose no período pesquisado pela alta vulnerabilidade da população. Entre os fatores complicadores estão: pobreza, grande fluxo de pessoas, precariedade de infraestrutura, baixa renda da população e atividades ilícitas realizadas na região (garimpo ilegal, por exemplo). A pesquisadora indica que refugiados e imigrantes que moram nas áreas fronteiriças podem ficar ainda mais vulneráveis devido à falta de documentação e barreira da língua que prejudicam o acesso aos serviços de saúde.
Todos os dados para a pesquisa foram provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do DataSUS e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a Organização Mundial da Saúde, ¼ da população global pode desenvolver tuberculose. Por isso, a instituição criou uma lista de 30 países prioritários no combate à doença, do qual o Brasil faz parte. De forma geral, os fatores que levam as populações à maior vulnerabilidade à tuberculose são pobreza, moradia inadequada, alimentação, e falta de saneamento básico.
A dissertação "O perfil epidemiológico dos portadores de tuberculose nas cidades gêmeas e faixa de fronteira do Brasil de 2012 a 2021" foi o trabalho de conclusão de Tatiana Scheidt no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz. O estudo foi orientado pelo professor doutor Leonardo Soares Bastos. A banca foi composta pela professora doutora Aline Nobre (ENSP/FIOCRUZ) e pela professora doutora Maria Jacirema Gonçalves (UFAM).
(Imagem: Freepik)
