Mulher grávida aferindo a pressão em consulta médica

Revisão exploratória mostra como o Paraguai e países vizinhos lidam com a toxoplasmose gestacional e congênita

Um estudo da bioquímica paraguaia Gladys Beatriz Olmedo Hermida investigou como os países do Mercosul vigiam e combatem a toxoplasmose gestacional e congênita. A pesquisadora mostra que é necessário fortalecer a cooperação regional e trabalhar com enfoques compartilhados de vigilância para abordar de forma eficaz a doença em mulheres grávidas, fetos e recém nascidos.

A pesquisa, uma revisão exploratória de bibliografia e dados publicados de 2004 a 2022, analisou a resposta à toxoplasmose no Brasil (nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul), Paraguai, Bolívia, Argentina, Uruguai e Venezuela. Ao todo, a pesquisadora cruzou informações de 93 fontes, publicadas em três idiomas, português, espanhol e inglês. Entre o material estudado estão leis, manuais, guias de práticas clínicas e protocolos de diagnósticos.

O resultado foi um mapeamento amplo dos sistemas de vigilância em saúde específicos e o perfil epidemiológico da toxoplasmose gestacional e congênita na Bolívia e nos países do Mercosul que fazem fronteira com o Paraguai. A operacionalização das guias normativas, como é feita a detecção dos casos, como cada país sistematiza as notificações, como os casos são classificados e a prevalência e incidência da doença nos países investigados foram informações levantadas durante a pesquisa.

A pesquisa revelou uma notável disparidade entre as capacidades de vigilância e controle de cada país. Gladys considera que o Brasil e a Argentina contam com sistemas fortes e regulamentações específicas. Já a Bolívia, o Paraguai e o Uruguai revelaram ter lacunas significativas na vigilância, com as notificações de caso não sendo obrigatórias, por exemplo. As estratégias da Venezuela não puderam ser melhor estudadas por falta de dados disponíveis. 

Após o cruzamento das informações coletadas, e considerando as dificuldades encontradas durante a análise, a pesquisadora concluiu que é importante desenvolver ações públicas conjuntas entre os países vizinhos. A colaboração deve visar o controle da soroconversão e detectar infecções agudas. O estudo também apontou para a importância de conhecer a epidemiologia local para propor programas educacionais com medidas de prevenção. 

A toxoplasmose é considerada um problema de saúde pública pelo Ministério da Saúde do Brasil e a infecção congênita (transmitida da gestante para o bebê) pode trazer sequelas e complicações. Como a contaminação acontece por um protozoário encontrado nas fezes de gatos e outros felinos, o estudo de Gladys traz a abordagem da Saúde Única. Nessa perspectiva, as ações públicas enxergam a saúde humana, animal e do meio ambiente de forma integrada. 

Gladys Beatriz Olmedo Hermida é a primeira aluna estrangeira a defender a dissertação do mestrado do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil). Ela atua no Departamento de Parasitologia do Laboratório Central de Saúde Pública, em Assunção, na área de biologia molecular. A estrutura faz parte do Ministério da Saúde Pública e Bem-Estar Social do Paraguai.

A dissertação “Revisión Exploratoria (Scoping Review) de la Toxoplasmosis en países del Mercosur y fronterizos con Paraguay: Sistemas de Vigilancia específicos y perfil epidemiológico de la Toxoplasmosis Gestacional y Congénita” foi orientada pela coordenadora acadêmica do programa, a professora doutora Andréa Sobral de Almeida (ENSP/Fiocruz), com co-orientação do professor doutor Edwards Frazão Teixeira (ENSP/Fiocruz). A banca foi composta pela professora doutora Alba Lucínia Peixoto (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) e pelo professor doutor Rafael Mariante Meyer Afiliação (IOC/Fiocruz).

 

(Imagem: Vinícius Marinho / Fiocruz Imagens)