Enfermeira aspira para a seringa o conteúdo da ampola da vacina

Estudo sobre cobertura vacinal de crianças no Mato Grosso do Sul aponta queda na adesão e dados pouco precisos sobre imunização 

Os dados sobre a cobertura vacinal infantil nas áreas de fronteira do Mato Grosso do Sul podem não ser precisos. Foi o que indicou o estudo “Vacinação infantil em municípios de fronteira do Mato Grosso do Sul: análise temporal da cobertura vacinal e da homogeneidade", apresentado recentemente por Milleny Sutier de Carvalho como trabalho de conclusão do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). Ela investigou como foi realizada a imunização de crianças naquele estado, de 2010 a 2021, para traçar um panorama do alcance e da homogeneidade da vacinação. 

O principal dado encontrado foi a queda da vacinação entre as crianças, que se mantém constante desde 2016. Além de encontrar municípios com baixas taxas de cobertura, a pesquisadora encontrou também números superestimados. Segundo a pesquisa, a causa da distorção pode ser o acompanhamento insuficiente da realidade da região. 

A pesquisa analisou a distribuição de vacinas contra hepatite B, poliomielite, rotavírus e febre amarela, além da BCG, a pneumocócica 10, a meningocócica C, a pentavalente e a tríplice viral. Foram mapeados 37 municípios na faixa de fronteira, 7 cidades gêmeas e 35 outras localidades. O estudo ecológico analítico observou os índices de vacinação de crianças de 0 a 12 meses de idade e focou nas localidades do estado que fazem fronteira com a Bolívia e o Paraguai, o que é o caso para 55,69% dos municípios sul-mato-grossenses.

Segundo o estudo, a imunização com a BCG é a única que apresenta maior cobertura nos municípios de faixa de fronteira do que naqueles que não são fronteiriços. Para as demais vacinas, foi observada uma redução na cobertura média em todo o estado. Os declínios mais acentuados foram notados na vacinação contra hepatite B e na meningocócica C.

A pesquisadora declarou que, embora haja preocupação quando os indicadores da cobertura são baixos, ela encontrou números superestimados, em especial em municípios com menos de mil habitantes. A discrepância de dados indica que é necessária uma atenção maior das autoridades de saúde às particularidades da região. Milleny Carvalho indica a medição da cobertura pelo número de doses e não pela quantidade de crianças imunizadas como uma possível falha. Outra possibilidade é que a taxa de natalidade esteja desatualizada ou que as medições oficiais não acompanhem corretamente a imunização de crianças cujas famílias se mudam para outros estados. 

O trabalho foi realizado no ano passado, quando o Programa Nacional de Imunização (PNI) completou 50 anos. A pesquisa foi orientada pelas professoras doutoras Aline Araújo Nobre, do PROCC/Fiocruz, e Taynãna César Simões, do Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Minas). A banca examinadora foi composta pela professora doutora Liana Wernersbach Pinto pelo professor doutor André Reynaldo Santos Périssé, ambos da ENSP/Fiocruz. 

 

 Imagem: Fiocruz Imagens / Raquel Portugal