Pesquisa realizada no Mato Grosso indica que aumento da morte de indígenas por problemas respiratórios pode ter relação com desmatamento
A saúde humana está ligada à preservação da natureza ao nosso redor. Sob essa premissa, a pesquisadora Gleice Medeiros Rodrigues Dias realizou um estudo no qual cruzou dados sobre desmatamento, aumento da temperatura e mortalidade de indígenas. A investigação mostrou um crescimento no número de mortes causadas por doenças respiratórias e doenças crônicas, que pode ser creditado às queimadas. Os resultados foram apresentados na dissertação “Desmatamento e aumento da temperatura local e suas implicações na morbimortalidade de populações indígenas do estado de Mato Grosso”, trabalho de conclusão de Gleice Dias no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP/Fiocruz. O curso faz parte do consórcio formado para oferta do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz).
Para realizar a pesquisa, Gleice analisou dados do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI) e desenhou um perfil de morbimortalidade proporcional das populações indígenas do Mato Grosso. Em uma análise exploratória e descritiva, esse perfil foi cruzado com as taxas de desmatamento e a avaliação do aumento da temperatura local em áreas indígenas.
O período estudado foi de 2010 a 2020, 2021 ou 2022, dependendo da disponibilidade dos números. As principais causas de morte em todos os grupos estudados foram doenças do aparelho respiratório, problemas circulatórios e endócrinos.
Ao tentar entender se a mortalidade era influenciada pelas questões climáticas, a pesquisadora encontrou a relação mais forte entre as mortes por questões respiratórias e a diminuição da área verde. A hipótese levantada pelo estudo é que as queimadas nas áreas em torno das comunidades indígenas têm prejudicado a saúde dessa população. A dificuldade de acesso aos serviços de saúde é também apontada como um fator relevante.
Em um olhar mais amplo, a pesquisa mostrou que as temperaturas estão em tendência de alta nas regiões analisadas. O aquecimento pode causar problemas de saúde, mas o estudo não encontrou uma relação direta com a mortalidade no período estudado. Já o desmatamento foi comprovadamente menor nas localidades indígenas do que nas comunidades circunvizinhas. Essa observação confirma o que outras pesquisas já haviam indicado: importância dos povos originários no trabalho de preservação do meio ambiente, regulação do clima e proteção da biodiversidade.
A pesquisa foi orientada pela professora doutora Beatriz Fátima Alves de Oliveira (ENSP/Fiocruz) e avaliada pelas professoras doutoras Letícia Palazzi Perez, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Andéa Sobral de Almeida, da ENSP/Fiocruz.
Imagem: Henrique Malaguti na Unsplash