Teste rápido para Covid-19

Alto fluxo de pessoas na fronteira com a Venezuela contribuiu para ocorrência de Covid-19 em Roraima

O fluxo de imigração de cidadãos venezuelanos para o Brasil cresceu nos últimos anos com o agravamento da crise econômica e social na Venezuela. Durante a pandemia da Covid-19, de 300 a 500 estrangeiros vindos daquele país atravessavam a fronteira por Roraima, mesmo durante os períodos em que o trânsito de pessoas foi restringido para evitar contaminação. Análise de dados sobre a doença em 15 municípios evidenciou que Pacaraima (RR), principal porta de entrada de venezuelanos no Brasil, foi o principal foco de contaminação daquele estado, com ondas epidêmicas de Covid-19 em 2021 e 2022 e a predição da incidência acumulada da Covid-19 totalmente diferente da observada na capital, Boa Vista.

Os dados foram apresentados como conclusão do mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz por Carmem Cenira Gomes Muniz. As informações analisadas indicaram que os números mais altos de casos na cidade de fronteira são uma evidência de que a intensa movimentação de venezuelanos durante a pandemia contribuiu para a transmissão do vírus no estado, influenciando a epidemia ocorrida na população que viveu em Pacaraima entre 2020 e 2022.

No período estudado, foram registrados 642.229 casos, sendo 97,2% de pacientes brasileiros e 2,8% de venezuelanos. Entre os registros nacionais, 56,3% foram de mulheres e 43,7% de homens. Para os venezuelanos, a proporção ficou em 51,1% de pacientes homens e 48,9% de mulheres. No recorte de idade, os casos brasileiros foram mais comuns em pessoas de 31 a 40 anos (22,5%). Entre os venezuelanos, a faixa etária mais afetada foi de jovens de 21 a 30 anos (30,2%). 

O trabalho mostrou que a epidemia da Covid-19 foi diferente na população refugiada venezuelana e na população brasileira residente em Roraima. As condições de vida dos dois grupos foram observadas para verificar se poderiam motivar a disparidade, mostrando que a forma inadequada de como os refugiados chegam e vivem no Brasil foram fatores que aumentaram as chances de transmissão da Covid-19. Como exemplo de problemas encontrados, o estudo citou os acampamentos provisórios, pequenos para o número de pessoas acolhidas, e os banheiros compartilhados. 

Para o mapeamento e cruzamento das informações foram usados dados de notificações dos indivíduos que apresentaram sinais e sintomas de Covid-19, além de informações do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), do e-SUS Notifica e da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde do estado de Roraima

A pesquisa “Epidemia da Covid-19 na população venezuelana refugiada e brasileira no estado de Roraima” foi apresentada por Carmem como projeto de conclusão do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP/Fiocruz, que integra o consórcio que oferta o Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz). O trabalho foi orientado pelo professor doutor José Ueleres Braga, da ENSP/Fiocruz. A banca examinadora foi composta pela professora doutora Maria de Jesus Fonseca, também da ENSP, e pelo professor doutor Wildo Navegantes de Araujo, da Universidade de Brasília (UNB).


Imagem: Fiocruz Imagens / Raquel Portugal