Barreira linguística e cultural impacta qualidade do atendimento pré-natal na Atenção Primária à Saúde em Boa Vista
Em um cenário marcado pela diversidade cultural e pelas complexidades inerentes à fronteira, a aluna do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz Nadja Salgueiro da Silva apresentou a dissertação intitulada "Assistência pré-natal na Atenção Primária à Saúde prestada a brasileiras e imigrantes em Boa Vista, Roraima". O estudo, orientado pelo professor Rodrigo Tobias de Sousa Lima, avaliou os serviços de pré-natal oferecidos pela Atenção Primária à Saúde (APS) às gestantes brasileiras e migrantes na capital de Roraima, com ênfase nas barreiras e desafios enfrentados por essas mulheres, especialmente as imigrantes venezuelanas. Os resultados revelaram uma boa cobertura das consultas de pré-natal no primeiro semestre de gravidez, alcançando 66,7% das gestantes. O trabalho encerrou a fase de defesas de dissertação da primeira turma do mestrado acadêmico do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz.
A pesquisa, realizada em três Unidades de Saúde da Família (USF) de Boa Vista, envolveu 18 gestantes – tanto brasileiras quanto migrantes. A metodologia adotada foi o estudo de caso, com coleta de dados por meio de entrevistas face a face e análise da caderneta das gestantes. O objetivo era verificar a cobertura e a qualidade da assistência pré-natal, com uma atenção especial às diferenças de tratamento baseadas na nacionalidade das pacientes. Embora a cobertura tenha se mostrado boa, a satisfação com o atendimento apresentou resultados preocupantes: 72,2% das entrevistadas manifestaram insatisfação, com destaque para as gestantes venezuelanas, das quais 85,7% classificaram o atendimento como “regular”. Um dos principais fatores apontados foi a barreira linguística e cultural, que comprometeu significativamente, segundo as participantes, a qualidade da assistência prestada.
Apesar das limitações inerentes ao tipo de pesquisa, os dados obtidos forneceram um panorama importante sobre a oferta de assistência pré-natal na região. Em especial, destacaram a necessidade de uma maior atenção e mais intervenções voltadas às gestantes migrantes, que enfrentam desafios específicos devido à sua condição. Além disso, o trabalho lança luz sobre a importância de mais estudos científicos e de ações concretas, incluindo acordos bilaterais que apresentem soluções práticas, legais e financeiras para solucionar os problemas elencados e superar os obstáculos que afetam a saúde materna e infantil nas áreas de fronteira.
A dissertação foi avaliada pelo professor Júlio Cesar Schweickardt, da Fiocruz Amazônia, e pela professora Elvira Maria Godinho de Maciel, da ENSP/Fiocruz, que reconheceram a relevância e a atualidade do tema abordado, especialmente em um contexto de crescente migração na América do Sul.