Primeira dissertação defendida no Programa Vigilabsaúde-Fiocruz avalia ferramenta inovadora para vigilância da febre maculosa no Brasil
O Programa Educacional Vigilabsaúde-Fiocruz, voltado para a formação de recursos humanos (mestrado profissional e doutorado) visando uma resposta rápida frente a surtos, epidemias, endemias e pandemias, alcançou um marco importante com a defesa da sua primeira dissertação. O estudo, conduzido pela veterinária Ana Carolina Mota de Faria como trabalho de conclusão do mestrado profissional centrou-se na avaliação da funcionalidade de um formulário eletrônico utilizado na vigilância epidemiológica e ambiental da febre maculosa, uma doença infecciosa transmitida pela picada de carrapatos infectados.
A dissertação, intitulada “Avaliação da funcionalidade de um formulário eletrônico (REDCap) utilizado na vigilância de ambientes da febre maculosa e descrição dos dados ambientais e laboratoriais obtidos entre 2022 e 2023 no Brasil”, apresentou resultados significativos para o aprimoramento das estratégias de monitoramento da doença no país. O estudo teve como foco principal a análise da ferramenta Research Electronic Data Capture (REDCap), uma plataforma eletrônica para coleta de dados, que foi incorporada recentemente na vigilância ambiental da febre maculosa. A introdução desta ferramenta mostrou-se uma proposta viável na vigilância ambiental da doença por contribuir para organização, sistematização, tempestividade na coleta e análise de dados para a vigilância da doença.
A análise dos dados coletados possibilitou uma compreensão detalhada da distribuição e prevalência da febre maculosa, bem como a identificação de áreas prioritárias para intervenção e controle. Segundo o trabalho, o REDCap mostrou-se eficaz em diversos aspectos. Entre as 14 Unidades Federativas capacitadas a utilizarem a ferramenta, a completude das variáveis obrigatórias foi considerada excelente em 69,2% dos casos. Além disso, o sistema foi avaliado como simples de usar, embora tenha havido algumas limitações na consistência dos dados, indicando a necessidade de aprimoramento na validação de amostras no laboratório.
O estudo também revelou dados preocupantes sobre a prevalência da febre maculosa no Brasil. Entre os 28.896 exemplares coletados, 99,7% eram carrapatos e 0,3% pulgas, dos quais 3,5% foram submetidos a testes de biologia molecular. Destas amostras, 9,4% apresentaram resultados positivos para a presença de Rickettsia sp., a bactéria causadora da febre maculosa, destacando a importância de um monitoramento contínuo e aprimorado.
A adoção do REDCap representa um avanço significativo na sistematização e padronização dos dados ambientais no Brasil. Antes da implementação da ferramenta, o cenário era marcado pela ausência de um sistema unificado de coleta e análise de dados, seja em investigações de campo ou de laboratório, o que dificultava o monitoramento eficaz da doença. No entanto, o estudo também ressaltou a necessidade de incluir mais estados na utilização do formulário eletrônico, ampliando a compreensão dos cenários ecoepidemiológicos da febre maculosa em diferentes regiões do país.
O trabalho foi apresentado à Escola Fiocruz de Governo, da Fiocruz Brasília, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Políticas Públicas em Saúde, que faz parte do consórcio de programas de pós-graduação da Fiocruz para oferta do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz. A orientação foi conduzida pela dra. Flávia Tavares Silva Elias, docente e pesquisadora da Fiocruz Brasília, com coorientação do professor doutor Gilberto Salles Gazêta, coordenador do Serviço de Referência Nacional em Vetores das Riquetsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A banca examinadora contou, ainda, com a participação da dra. Erica Tatiane da Silva, da Fiocruz Brasília, e do dr. Cláudio Manuel Rodrigues, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).
O Programa VIgiLabSaúde está sendo ofertado por meio de um consórcio entre Programas de Pós-Graduação da Fiocruz, que envolve a Fiocruz Brasília, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e o Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco), com apoio e financiamento da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.