Pesquisa indica que qualidade da água em serviços de hemodiálise em Natal está abaixo da qualidade esperada
Em 1996, Caruaru (PE) foi palco de uma das maiores tragédias da saúde pública brasileira, quando mais de 100 pacientes renais foram intoxicados durante sessões de hemodiálise devido à exposição à água contaminada. Cerca de 60 pessoas perderam a vida, e os sobreviventes enfrentaram severas consequências. Esse episódio trágico impulsionou mudanças significativas na vigilância e no manejo da qualidade da água em serviços de saúde que oferecem tratamento de hemodiálise. Diversos países, inclusive o Brasil, estabeleceram normatizações para padronizar, monitorar e garantir mais segurança ao paciente submetido às sessões de hemodiálise.
Retomando essa temática crítica, Dayanne Cristina Dantas, aluna do Mestrado Profissional do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz, dedicou seu trabalho de conclusão do curso ao estudo intitulado "Qualidade bacteriológica e toxicológica das águas de hemodiálise em serviços de referência de nefrologia, na cidade de Natal, no período 2016 a 2022". O trabalho avaliou a periodicidade das coletas e a qualidade bacteriológica e toxicológica das águas utilizadas em serviços de nefrologia na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, monitoradas pelo Laboratório Central do estado (LACEN-RN). Os resultados indicaram que a frequência de monitoramento pela vigilância sanitária encontra-se abaixo do planejado e que as águas utilizadas nos serviços de hemodiálise da capital do Rio Grande do Norte apresentam contaminação para os parâmetros microbiológicos e toxicológicos.
O estudo de série temporal retrospectiva, utilizou dados do sistema de gerenciamento de amostras laboratoriais Harpya, usado pelos laboratórios de vigilância sanitária, relativos às amostras de água coletadas pelo Programa de Monitoramento da Qualidade da Água para Hemodiálise. Os resultados indicaram contaminação para os parâmetros microbiológicos e toxicológicos, com 11,8% de positividade para endotoxina, 2,9% de contaminação por coliformes totais e 7,8% de amostras inadequadas para bactérias heterotróficas. Entre 2016 e 2022, foram realizadas 161 visitas de monitoramento, atingindo apenas 41,9% das ações programadas no período.
Com base nos resultados encontrados, Dayanne criou um resumo executivo que deverá ser apresentado às autoridades sanitárias de Natal. No documento, foram feitas recomendações para o aperfeiçoamento do programa de monitoramento de água de hemodiálise na capital do Rio Grande do Norte. O intuito é contribuir para aumentar a segurança do paciente que usa os serviços de hemodiálise do município.
O trabalho foi orientado por Cynthia Braga, docente e pesquisadora do Departamento de Parasitologia do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco), e avaliado por Christian Reis, pesquisador do Departamento de Microbiologia do IAM/Fiocruz Pernambuco, e Jailma Almeida de Lima, do Laboratório Central do Rio Grande do Norte (LACEN-RN). Este foi o segundo trabalho a ser defendido no Mestrado Profissional, que é realizado em consórcio entre Programas de Pós-Graduação da Fiocruz, com apoio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.
*Imagem meramente ilustrativa - Canva