Oficina de Artigos Científicos promove imersão acadêmica e colaboração internacional em saúde pública

Ao longo de cinco dias, doutorandos já qualificados e egressos do mestrado do Programa VigiFronteiras Brasil/Fiocruz mergulharam em uma imersão acadêmica científica, durante a “Oficina de Elaboração de Artigos Científicos". O encontro aconteceu de 26 a 30 de maio, no campus Manguinhos-Maré da Fiocruz, no Rio de Janeiro e contou com a participação de 20 alunos brasileiros e estrangeiros vinculados ao programa. 

“Essa é uma oportunidade ímpar para todos. Mais do que avançar na finalização dos artigos, é também um momento de reencontro. Desde o início, nosso objetivo sempre foi oferecer um espaço onde se pudesse construir e fortalecer uma rede colaborativa. Focando no crescimento profissional dos participantes, tanto no campo acadêmico quanto em suas atuações práticas”, pontuou Andréa Sobral, coordenadora Acadêmica do Programa, na abertura do evento.

Sobre a potencialidade da ocasião, Andréa também ressaltou a importância da participação dos profissionais na pós-graduação. “Estamos, de fato, formando uma massa crítica qualificada, preparada para atuar em contextos de maior vulnerabilidade e instabilidade nas políticas públicas, profissionais capazes de refletir sobre os impactos de suas pesquisas e promover mudanças significativas a partir delas.”

Os textos desenvolvidos pelos discentes e seus orientadores foram revisados e aprimorados com foco na submissão a revistas científicas indexadas. A programação incluiu alocação por afinidade temática, reuniões de alinhamento e acompanhamento personalizado, visando potencializar as chances de publicação.

A estrutura da oficina incluiu a  discussão de aulas pré-gravadas sobre o processo de publicação científica, disponibilizadas com antecedência para estudo prévio dos participantes. O maior foco foi no  trabalho intensivo, individual ou em subgrupos de quatro participantes, alocados por afinidade temática, reuniões de alinhamento e acompanhamento personalizado, ampliando o potencial de publicação.

Os participantes contaram com  orientação especializada dos docentes André Reynaldo Santos Périssé, pesquisador do Departamento de Endemias Samuel Pessoa, da ENSP/Fiocruz, Claudia Torres Codeço, pesquisadora do Programa de Computação Científica da Fiocruz, Enirtes Caetano Prates Melo, pesquisadora do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENSP/Fiocruz, e Joviana Quintes Avanci Pina, pesquisadora do Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde da ENSP/Fiocruz. 

Eduarda Cesse, coordenadora-geral de Educação da Fiocruz e do Programa, destacou a importância da oficina para a proposta pedagógica do curso. “As dissertações e teses já geram resultados importantes, e transformá-los em artigos é essencial para que esse conhecimento chegue à sociedade e aos profissionais de saúde, por meio dos periódicos científicos, que são o principal canal de divulgação.”

A aluna colombiana e indígena Yuri Rodríguez classificou o evento como um verdadeiro intercâmbio de saberes. “Estamos em um programa de vigilância que busca fortalecer o talento humano atuante nas regiões de fronteira com o Brasil. Esse encontro permite a troca de conhecimentos, experiências, estratégias e pesquisas que vêm sendo desenvolvidas nessas áreas e que também podem ser aplicadas em outros territórios”, destacou.

Para o instrutor condutor da oficina,  Reinaldo Souza-Santos, pesquisador do Departamento de Endemias Samuel Pessoa, da ENSP/Fiocruz e docente do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia, o grande diferencial da turma estava no vínculo direto dos alunos com os serviços de saúde. “A maioria está inserida no sistema de saúde e traz essa vivência para a produção científica. Isso enriquece os artigos, porque parte do que está ali vem da prática cotidiana, da realidade do trabalho deles. Essa conexão fortalece as discussões e conclusões dos textos, tornando-os mais relevantes e potentes”, explicou.

Augusto Alves, aluno egresso do mestrado, expressou sua felicidade em voltar a pensar em ciência, e voltar a discutir sobre os assuntos que já tinha discutido na dissertação e aprofundar esses conhecimentos. “A oficina permitiu que eu voltasse a mergulhar naquele texto. Quando a gente conclui a nossa dissertação e volta para o serviço, muitas coisas vão entrando nesse processo de trabalho, a gente passa a utilizar muitas ferramentas que a gente aprendeu durante o mestrado, mas a gente cria um certo distanciamento do texto que foi construído na dissertação. A participação também me fez pensar em voltar à academia, a voltar a estar por aqui, pois  novas dúvidas   surgiram no processo de trabalho”, relembrou ele, que é egresso do mestrado do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz. 

Os artigos dos participantes abordaram temas como vigilância da malária, dengue, sarampo, saúde indígena, leishmaniose, os impactos da pandemia de Covid-19 sobre mulheres vivendo com HIV, mortalidade por Covid durante a crise sanitária, além de questões relacionadas ao desmatamento e ao garimpo, entre outros. Participaram da oficina médicos, enfermeiros, biólogos e demais profissionais da área da saúde. Mais do que aprimorar aspectos técnicos, a oficina foi pensada para qualificar os artigos de forma imediata para submissão. Como resultado, os 15 melhores trabalhos serão selecionados para avaliação e possível publicação em um suplemento temático da Revista Ciência & Saúde Coletiva, uma das mais relevantes na área no Brasil.

O encerramento da oficina foi marcado por gratidão, afeto e um forte senso de compromisso coletivo. Eduarda Cesse destacou que formar profissionais por meio de uma instituição pública, com recursos públicos, também é um compromisso ético e social. "É fundamental que as análises produzidas retornem à sociedade e aos serviços de saúde, contribuindo para mudanças reais, novas práticas e servindo de base teórica para outros estudantes que virão", afirmou.

A expectativa agora é que o maior número possível de artigos seja aprovado para publicação no suplemento da revista — fruto não apenas da produção individual, mas também das redes de colaboração construídas ao longo da oficina e que podem se manter ativas no futuro. Que venham os artigos — este e tantos outros — e que vocês levem essa experiência para a vida”, finalizou Eduarda Cesse, reforçando a importância da integração entre países e do fortalecimento dos sistemas de saúde por meio da formação colaborativa promovida pela Fiocruz.