Estudo mostra importância dos testes rápidos de malária para tratamento e acompanhamento da doença na área indígena de fronteira
Embora não sejam o padrão ouro na detecção de malária, os Testes de Diagnóstico Rápidos (TDR) se mostraram cruciais na estratégia de combate e tratamento da doença em áreas de difícil acesso, fronteiriças e com população exposta à alta vulnerabilidade. A conclusão vem do estudo da pesquisadora Anaytatyana Góes Peixoto Maciel que analisou o uso de TDRs, de 2015 a 2020, no município de Oiapoque (AP), na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.
O estudo foi estruturado com base em informações coletadas junto a profissionais de saúde envolvidos com o combate à doença na região durante o período determinado. Essas fontes especializadas citaram a importância dos testes rápidos como parte das ações para enfrentamento da malária em face às dificuldades locais. A fácil utilização dos TDRs, o resultado em até 20 minutos e o transporte para áreas de difícil acesso são algumas das vantagens indicadas.
Oiapoque é um município de pouco mais de 27 mil habitantes. A população indígena local é especialmente vulnerável à malária por diferentes fatores sociais, culturais e econômicos. A disparidade é tanta que, em 2020, dos casos da doença registrados, 87,6% foram de pacientes indígenas. O estudo mostrou que, de forma geral, a malária está em retração no Brasil, mas esse cenário não se repete em áreas de fronteira. Anaytatyana indica na pesquisa que fragilidades típicas dessas zonas dificultam o acesso aos serviços de saúde. Entre os problemas citados estão atividades ilícitas de garimpo e extração de madeira.
Para os entrevistados na pesquisa, os testes rápidos são uma boa ferramenta dentro de uma estratégia maior de enfrentamento. Para eles, a articulação entre diferentes estruturas de saúde é a principal forma de fortalecer o trabalho de prevenção, combate e acompanhamento da malária no Oiapoque.
O estudo evidencia que a detecção e acompanhamento da malária são importantes não apenas para manutenção da saúde da população. Os impactos são ainda maiores, pois a doença tende a diminuir muito a capacidade produtiva da pessoa afetada. Em Oiapoque, a maioria dos indivíduos infectados é indígena, do sexo masculino e em idade economicamente ativa. Assim, as estratégias de combate e prevenção geram também resultados sociais e econômicos para a região como um todo.
O trabalho de Anaytatyana Maciel é o resultado de uma jornada de dois anos no mestrado como aluna do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP/Fiocruz pelo Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz. Ela foi a primeira aluna a apresentar a pesquisa de conclusão do curso, nesta sexta-feira (20). O estudo, intitulado “Análise da aplicação dos testes de diagnóstico rápido (TDRs) de malária no município de Oiapoque-AP, entre os anos de 2015 a 2020”, foi orientado pelo professor Paulo Peiter. Na banca avaliadora, participaram as professoras Simone Santos (IOC/Fiocruz) e Elvira Maciel (ENSP/Fiocruz). Anaytatyana também foi a primeira colocada no processo seletivo para o curso.