Mosquito em cima de uma pele humana

Mapeamento relaciona hospitalizações por doenças neurológicas com surtos de viroses

Complicações por neuropatias periféricas aconteceram com mais frequência durante surtos de viroses, em especial durante as epidemias causadas pelo vírus da dengue, da chikungunya e da Zika. Esse é um dos achados do estudo da pesquisadora Pamela Cristina Fragata dos Santos. Ela mapeou as internações hospitalares por neuropatias periféricas na 9ª Regional de Saúde do Estado do Paraná, de 2008 a 2022. A pesquisa alerta para a importância de entender melhor o problema e fortalecer a vigilância em saúde com relação a essas doenças raras, que podem ter grande impacto na vida dos pacientes. 

As neuropatias periféricas são causadas pela disfunção de um ou mais nervos periféricos. Os prejuízos à saúde variam de distúrbios sensoriais, dor e fraqueza muscular a atrofia, entre outros. Entre os tipos de neuropatia periférica analisadas na pesquisa foi a Síndrome de Guillain-Barré, uma doença inflamatória aguda. Sua ocorrência é rara, mas pode ser mais comum em pessoas infectadas com vírus zika e SARS-CoV-2..

A pesquisa indica que, ao relacionar a distribuição temporal das neuropatias periféricas com a incidência de outras viroses, foi possível perceber um aumento dessas patologias durante as epidemias da dengue e na época da introdução do vírus Zika na região. Dos casos estudados, 19% era de pacientes vindos de países que fazem fronteira com o Brasil. Por isso, a pesquisadora alerta para a importância de se pensar estratégias de saúde global adequadas ao contexto geopolítico.

O estudo analisou 15 anos de dados de hospitalizações do DATASUS, do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), do Sinan (para dengue, Zika e chikungunya), do Notifica Covid-19 e do Sistema de Informação e Vigilância Epidemiológica (Sivep gripe e SRAG). Nos atendimentos para neuropatias periféricas, durante o período observado, 55% dos pacientes foram mulheres, a idade média foi de 37 anos e os principais sintomas iniciais foram febre, diarréia e cefaléia. O tratamento mais comum foi com imunoglobulina humana, administrado em 82% dos casos.

Os resultados compõem a dissertação intitulada "Análise da distribuição temporal das neuropatias periféricas, na 9ª Regional de Saúde do Estado do Paraná, no período de 2008-2022", trabalho de conclusão do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), que compõe o consórcio do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz. O estudo foi orientado pela professora doutora Jussara Rafael Angelo, da ENSP/Fiocruz. A banca foi composta pelos professores doutores André Reynaldo Santos Périssé, da ENSP/Fiocruz, e Trevon Louis Fuller, da Universidade da Califórina (UCLA), dos Estados Unidos. 


(Imagem: Genilton Vieira / Fundação Oswaldo Cruz)