Enfermeiro aplica a vacina para a Covid-19.

Pesquisa mostra como Brasil e Peru colaboraram para enfrentar os desafios impostos pela pandemia da Covid-19

As pandemias afetam pessoas de formas diferentes, dependendo da vulnerabilidade social e econômica das populações. Nem sempre as estratégias de organizações internacionais se adequam à realidade das comunidades periféricas. O pesquisador Augusto Cesar Nunes Alves investigou como dois municípios fronteiriços do Brasil e do Peru lidaram com a pandemia de Covid-19. O estudo destaca como as localidades se ajudaram em meio às dificuldades e como relações sociais informais são importantes em momentos de crise.

A pesquisa mapeou as estruturas de saúde nos municípios de Benjamin Constant, no Brasil, e Islândia, no Peru. A região ainda faz fronteira com a Colômbia. As áreas de fronteiras apresentam condições específicas que não necessariamente são atendidas por políticas padronizadas de atenção à saúde. Então, o estudo procurou entender melhor o histórico estrutural, as organizações políticas e as capacidades das autoridades públicas, entre outros, para assim analisar a resposta à Covid-19.

O estado do Amazonas registrou 622.631 casos de Covid-19 durante o período analisado (2020 a 2022), sendo 3.064 em Benjamin Constant. Foram 14.398 óbitos no estado e 110 no município. No Peru, o departamento de Loreto registrou 313.756 casos, sendo 3.334 em Islândia. As mortes chegaram a 3.656 em Loreto e 15 em Islândia. Duas populações indígenas moram na região, os Omaguas e os Tikunas. 

Um dos principais achados da pesquisa foi a compreensão de que acordos locais têm força por vezes maior do que ações globais de saúde que não foram pensadas para os contextos regionais. Por outro lado, as áreas de fronteira também encontraram oportunidades de colaboração durante a crise sanitária. Entre os aspectos positivos destacados no estudo estão a possibilidade de aquisição de insumos e equipamentos de forma conjunta e a mobilização de força de trabalho, por meio do acesso aos mercados e logísticas dos países vizinhos.

A pesquisa mostrou, ainda, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) para o Peru, mapeando os casos de pessoas daquele país que buscaram atendimento no Brasil. Entender o fluxo de indivíduos nas fronteiras é especialmente relevante em casos de crises de saúde como foi o caso da Covid-19. As estratégias de prevenção, combate e tratamento passam pela compreensão correta da relação entre os países e as movimentações de seus habitantes. 

A metodologia para a pesquisa seguiu uma abordagem de neoinstitucionalismo histórico. Os eixos analisados foram os sistemas de saúde dos dois municípios, a evolução da Covid-19 nas localidades (pensando em números de casos e óbitos), e as ações de respostas dos sistemas a esses casos (como controle da propagação, preparação e fortalecimento das estruturas de atendimento - abertura de novos leitos e aumento da equipe médica). Foram feitos estudos de casos por meio de entrevistas semiestruturadas com pessoas em posições estratégicas na estrutura de saúde, revisão e análise documental e análise de dados públicos.

Os resultados foram apresentados na dissertação "Ações e Desafios da Resposta do Sistema de Saúde a Covid-19: Estudo de Caso em dois municípios da tríplice fronteira amazônica", trabalho de conclusão do mestrado de Augusto Cesar Nunes Alves pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP/Fiocruz. O curso integra o consórcio de programas que compõem o Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz). A pesquisa foi orientada pela professora doutora Adelyne Maria Mendes Pereira (ENSP/Fiocruz). A professora doutora Monique Azevedo Esperidião (UFBA) e o professor doutor Carlos Machado de Freitas (ESNP/Fiocruz) integraram a banca avaliadora. 

(Imagem: Raquel Portugal / Fiocruz Imagens)