Pesquisa mostra que método padrão para diagnóstico de Leishmaniose em cães pode não ser eficiente na região da fronteira norte brasileira
O médico veterinário Dennis Alberto Martins Ventura Magalhães mapeou as ocorrências de Leishmaniose em cães no município de Oiapoque (AM) e percebeu indicativos de que a forma de diagnosticar a doença pode não ser eficaz. Em áreas de difícil acesso, como é o caso das fronteiras no norte do país, o uso de teste rápido para triagem e exame posterior para confirmação pode estar deixando de detectar animais doentes. O estudo sugere a necessidade de melhor acompanhamento para casos dados como inconclusivos.
O trabalho foi um estudo transversal de busca ativa que investigou a saúde de cães domiciliados em Oiapoque e Clevelândia no Norte, onde há uma base do exército brasileiro, e Vila Vitória, que faz fronteira com Saint-Georges, na Guiana Francesa. Durante a pesquisa, 158 cães passaram por exames clínicos e tiveram amostras de sangue analisadas em laboratório. O achado mais importante foi que, mesmo aqueles com sinais clínicos sugestivos da doença, não tiveram o resultado claro de leishmaniose após as análises laboratoriais. Para o pesquisador, isso indica que o padrão para os testes dos animais não está detectando possíveis casos positivos.
Não ter o diagnóstico correto dos animais é preocupante porque de 60% a 80% dos cães infectados podem permanecer assintomáticos, o que aumenta o potencial de transmissão da doença. Além da necessidade de diferentes formas de testagem, o estudo também indica a importância da busca ativa e da vigilância das zoonoses.
Além do trabalho clínico, a pesquisa detalhou todo o contexto da Leishmaniose em Oiapoque. A análise incluiu: levantamento sorológico, avaliação dos sinais clínicos da doença, coleta de amostras clínicas de cães com resultado positivo, e identificação da espécie de leishmania com análise das amostras em laboratório.
A leishmaniose é uma das sete endemias mundiais de prioridade da Organização Mundial de Saúde (OMS), além de ser considerada uma das doenças mais negligenciadas do mundo segundo a Organização Panamericana da Saúde (Opas). Cerca de 90% dos casos mundiais acontecem no Brasil, na Índia e países da África Oriental.
Os resultados desse estudo foram apresentados na dissertação “Avaliação da ocorrência da Leishmanioses em cães domiciliados do município de Oiapoque/Amapá, região de fronteira franco-brasileira”, trabalho de conclusão de Dennis Alberto Martins Ventura Magalhães no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). A formação faz parte do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil). A pesquisa foi orientada pelos professores doutores Fernanda Santos (ENSP/Fiocruz) e Eduardo de Castro Ferreira (Fiocruz/MS). A banca avaliadora foi composta pelo professor doutor Jaime Antônio Abrantes e pela professora doutora Flávia Coelho Ribeiro Mendonça, ambos da ENSP/Fiocruz.
(Imagem: Peter Ilicciev / Fiocruz Imagens)