Mapeamento mostra a necessidade de monitoramento constante da dengue na fronteira do Brasil com a Bolívia
A incidência de dengue é maior quando as medidas de controle são relaxadas e as condições sociais propícias para a proliferação não são resolvidas. Essa foi uma das conclusões da pesquisadora Sheila Andrade Vieira, que mapeou os casos de dengue em uma região especialmente vulnerável, a fronteira do Brasil com a Bolívia. Nos municípios pesquisados, a dengue se comporta como uma doença endêmica e, por isso, merece intervenção constante.
A dengue é uma doença tropical negligenciada e reemergente. Ela tem ligação com as mudanças climáticas e a falta de saneamento básico é um dos fatores de risco. Com isso, está presente de forma endêmica em 120 países. Segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em 2022, foram detectados cerca de 1 milhão de casos no Brasil e 5 mil na Bolívia.
Para o estudo, a pesquisadora analisou a incidência de dengue nos municípios de Epitaciolândia e Brasiléia (Brasil) e Cobija (Bolívia), que são cidades gêmeas na fronteira dos dois países, de fronteira. Ela descreveu o perfil sócio epidemiológico, os fluxos de vigilância de saúde e os desfechos de 8.267 casos.
Do ponto de vista demográfico, a dengue se mostrou mais presente nas áreas urbanas e foi mais prevalente em pessoas em idade economicamente ativa, de 20 a 39 anos. Não houve uma diferença muito grande entre o gênero dos pacientes, embora as mulheres tenham sido mais acometidas.
Já sobre o fluxo de vigilância, a pesquisa mostrou grandes semelhanças entre as abordagens adotadas nos dois países. Ambos contam com sistema de notificação compulsória de casos e com programas específicos para combate e prevenção da doença. Tanto o Brasil quanto a Bolívia têm laboratórios públicos para análise de casos suspeitos.
Uma dificuldade relevante enfrentada nacionalmente e pelos nossos vizinhos é o chamado inverno amazônico, que ocorre no final do ano. Nesse período, as chuvas são fortes e se combinam com a alta temperatura, o que propicia a disseminação do mosquito vetor. As mudanças climáticas são um fator complicador a mais nesse cenário.
A pesquisa de Sheila foi um estudo descritivo que cruzou dados recolhidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e no Sistema Nacional de Informação de Saúde - Vigilância Epidemiológica (Snis-Ve), da Bolívia. Para compor o panorama demográfico, a pesquisadora cruzou os dados com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A dissertação "Incidência de dengue em cidades gêmeas de fronteira: municípios de Epitaciolândia e Brasiléia (Brasil) e Cobija (Bolívia)", foi o trabalho de conclusão do mestrado de Sheila Vieira no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente, que faz parte do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras). A pesquisa foi orientada pelo professor doutor Raphael Mendonça Guimarães (ENSP/Fiocruz) e a banca foi composta pelas professoras doutoras Elvira Maciel (ENSP/Fiocruz) e Viviane Parreira, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MPAPS/FM/UFRJ).
(Imagem: Raquel Portugal e Rodrigo Méxas / Fiocruz Imagens)