Avaliação da vigilância epidemiológica em hospitais do Acre aponta necessidade de melhorias
O controle epidemiológico nos hospitais públicos do Acre precisa de reforços. Essa é uma das conclusões do estudo conduzido por Valéria Nascimento de Moraes Brasil junto a profissionais de saúde do estado. O estudo mostrou que o tempo de notificação de eventos de saúde pública deve ser reduzido e que é necessário mais conhecimento sobre as particularidades da região.
Para a pesquisa, Valéria Brasil mapeou fartamente os processos, a estrutura e a atuação dos profissionais nos Núcleos Hospitalares de Epidemiologia (NHE), unidades que têm o objetivo detectar, monitorar e notificar potenciais emergências em saúde pública. No estudo, a pesquisadora avaliou como esses três elementos são utilizados no acompanhamento de casos de sarampo, poliomielite, malária, febre amarela e de outras potenciais doenças que podem se transformar em epidemia ou a ocorrência de alguma doença desconhecida.
No quesito notificação, o estudo mostrou que a realidade brasileira é bastante diferente dos vizinhos ao norte. Na fronteira com o Acre, Bolívia e Peru apresentaram subnotificação de casos de poliomielite e malária, em 2022 e 2023, de acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde. Para o sarampo, a Bolívia não teve nenhum caso documentado em 2021.
No componente processos, a pesquisadora ouviu os profissionais de saúde sobre as diferentes tarefas de vigilância epidemiológica e encontrou evidências de que elas precisam ser reforçadas. Os entrevistados relataram, por exemplo, falhas na elaboração de boletins epidemiológicos e no registro de atendimentos a pacientes estrangeiros.
A pesquisa concluiu que as estruturas e processos de vigilância têm capacidade parcial ou incipiente no estado, o que prejudica a notificação de casos. A fragilidade é um risco para o país, pois regiões de fronteira são mais sensíveis a eventos de saúde pública. O estudo recomenda o estímulo a maior engajamento dos profissionais no processo de notificação e o fortalecimento dos NHEs nos hospitais públicos do Acre.
O mapeamento foi resultado de um estudo avaliativo seccional com abordagem quali-quantitativa. Além das entrevistas com profissionais de saúde, a pesquisadora avaliou, ainda, dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). As informações e dados compõem a dissertação "Avaliação da Rede de Vigilância Epidemiológica Hospitalar no Acre na Resposta a Potenciais Emergências em Saúde Pública de Interesse Internacional, 2020 a 2022", apresentada como trabalho de conclusão do mestrado de Valéria pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública (PPGSP) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). O PPGSP/ENSP/Fiocruz integra o consórcio para oferta do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz).
O trabalho foi orientado pela professora doutora Maria Angélica Borges dos Santos, da ENSP/Fiocruz. Já professora doutora Yara Hahr Marques Hokerberg, do INI/Fiocruz, e o doutor Marcos Venicius Malveira de Lima, da Secretaria de Estado de Saúde do Acre, fizeram parte da banca avaliadora do trabalho.
Foto: Fiocruz Imagens / Raquel Portugal