Pesquisa sobre incidência de tuberculose na fronteira do Brasil com a Argentina indica a necessidade de ações bilaterais de vigilância
A pesquisadora Juliane José Massignani Perotto analisou dados espaciais, temporais e demográficos para entender a incidência de tuberculose na fronteira do Brasil com a Argentina. O estudo concluiu que são necessárias ações conjuntas e políticas públicas de saúde bilaterais para combater e realizar a vigilância da doença nos dois países.
Para a pesquisa, Juliane observou a incidência de tuberculose na fronteira de Santa Catarina, no Brasil, e Misiones, na Argentina, no período entre 2009 e 2021. A região apresentava 10 anos de estabilidade no número de casos, tendo uma média de 26,9 por 100 mil, no lado brasileiro, e 19 por 100 mil habitantes, no município argentino. O estudo mostrou, entretanto, que esse cenário pode estar mudando, com uma tendência de aumento da contaminação nas duas cidades. Durante o período analisado, a pesquisadora notou taxas discrepantes e subnotificações, o que deve ter contribuído para uma visão incompleta da doença na região.
O principal achado do trabalho foi a grande autocorrelação espacial positiva entre os países vizinhos. Isso quer dizer que a ocorrência de tuberculose em um município afeta o outro e vice-versa. É como se a fronteira internacional se comportasse como uma área única, sem separação. A elevada mobilidade populacional, os movimentos migratórios e as atividades de alto impacto ambiental são alguns dos fatores que fazem com que as cidades vizinhas enfrentem desafios semelhantes. Somam-se aos problemas partilhados, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e as condições de vida da população.
Por estarem fortemente ligados, a pesquisa recomenda que as ações de vigilância em saúde dos municípios das fronteiras sejam pensadas em conjunto. O estudo mostrou, ainda, a necessidade do controle da doença em ambos os países, com o aprimoramento das políticas públicas, o firmamento de acordos bilaterais para financiamento e oferta de assistência em saúde, e a gestão compartilhada de sistemas de dados e programas de saúde pública.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a tuberculose é uma das doenças infecciosas mais mortais do mundo. Todos os dias, mais de 4 mil pessoas morrem de tuberculose e cerca de 30 mil adoecem com esta doença evitável e curável. Nas Américas, todos os dias morrem mais de 70 pessoas e cerca de 800 adoecem dessa doença.
Os resultados foram apresentados por Juliana Massignani na dissertação “Distribuição espacial e evolução temporal da incidência de tuberculose na fronteira de Santa Catarina, Brasil e Misiones, Argentina, 2009-2021” como trabalho final do mestrado do Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP/Fiocruz, que faz parte do Programa Educacional VigiFronteiras-Brasil. A pesquisa foi orientada pela professora doutora Maria de Jesus Mendes da Fonseca e pelo professor doutor José Ueleres Braga. A banca examinadora foi composta pela professora doutora Maria Gimena Luque, do Instituto Nacional de Enfermedades Respiratorias e da do Ministerio de Salud de la Nación Argentina, além do professor doutor Luiz Antonio Bastos Camacho (ENSP/Fiocruz).