Mulher tendo pressão aferida em consultório médico

Estudo mostra como os serviços de saúde pública em Roraima ajudam a população fronteiriça da Venezuela

Como o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro pode prestar melhor assistência à população venezuelana que busca atendimento médico em nosso país? Essa foi uma das perguntas que guiou o estudo do pesquisador Emerson Ricardo de Sousa Capistrano. Ele mapeou as internações de pacientes da nação vizinha em hospitais públicos do estado de Roraima de 2010 a 2020 e observou a necessidade de fortalecer os serviços de saúde na região da fronteira e de se estabelecer um sistema de referência e contrarreferência eficiente entre as unidades de assistência dos dois países.

No estudo, Capistrano analisou a estrutura pública de saúde de Roraima e computou dados sobre as internações de venezuelanos como o motivo da hospitalização, razão e tempo de permanência, desfecho dos casos e o custo de cada internação para o SUS. A pesquisa também mapeou o perfil dos pacientes, analisando dados demográficos como sexo e idade. Esses dados foram cruzados com informações sobre o tipo de situação médica apresentada como Doença de Notificação Compulsória (DNC), como é o caso do HIV, sarampo e dengue, e internação por Causas Sensíveis à Atenção Básica (CSAB), como pneumonia bacteriana, infecções da pele e doenças preveníveis por imunização.

No intervalo estudado mais mulheres venezuelanas (51,7%) procuraram assistência médica no Brasil, em comparação com os homens. A faixa etária feminina que mais buscou ajuda foi de 15 a 49 anos. A maior demanda foi para casos de atendimento de ginecologia e obstetrícia, como acompanhamento de gravidez e puerpério. Nos 10 anos estudados, o pico se deu em 2019, quando 17% dos pacientes internados em hospitais públicos de Roraima eram venezuelanos. 

A Venezuela foi o primeiro país certificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por erradicar a malária da maior parte do território, em 1961. Hoje, entretanto, o país passa por uma grave crise humanitária. Segundo dados da Agência da Nações Unidas para Refugiados, 82% da população vive em estado de pobreza e não tem acesso à estrutura de saúde ou alimentação adequada. Por isso, mais de 5 milhões de venezuelanos saíram do país desde 2015. 

Os dados apresentados por Capistrano compõem a dissertação “Internações hospitalares de venezuelanos no Brasil: o caso de Roraima” de conclusão do mestrado do no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), que integra o consórcio para oferta do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz). A pesquisa foi orientada pela professora doutora Carla Lourenço Tavares de Andrade e contou com a avaliação das professoras doutoras Thaiza Dutra Gomes de Carvalho e Sheyla Maria Lemos Lima, todas da ENSP/Fiocruz.

Imagem: Fiocruz Imagens / Vinícius Marinho