Estudos e amostragem do ciclo de vida do barbeiro, transmissor da doença de Chagas.

Desafios socioeconômicos dificultam a vigilância contra a doença de Chagas na tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Paraguai

A doença de Chagas é endêmica em 21 países das Américas. Devido ao relativo sucesso das medidas de controle da transmissão vetorial e transfusional, a transmissão congênita tem se tornado mais relevante e a principal fonte de novos casos. Neste contexto, a consultora do Ministério da Saúde Marília Lavocat Nunes, mapeou as estruturas governamentais de saúde nas regiões de fronteira do Brasil com a Colômbia e o Paraguai e identificou fragilidades no controle dessa forma de transmissão. Os principais obstáculos encontrados estão associados à pobreza e à desigualdade. Ou seja, os desafios socioeconômicos dificultam o acesso equitativo aos cuidados de saúde necessários para evitar a transmissão da doença. 

No estudo, um mapeamento do tipo descritivo e exploratório com abordagem qualitativa, Marília Lavocat descreveu o contexto político-organizacional, epidemiológico e social relacionado à vigilância da transmissão vertical da doença de Chagas no Brasil, Colômbia e Paraguai. A partir desse levantamento, ela buscou identificar as potencialidades e os limites dessa vigilância nos três países nas diferentes esferas de governo (municipal, estadual e federal), assim como as oportunidades de articulações entre elas. 

Os achados foram reunidos na dissertação “Avaliabilidade da Vigilância da Transmissão Vertical da Doença de Chagas: perspectivas a partir dos contextos de Brasil, Colômbia e Paraguai”, trabalho de conclusão de Marília Lavocat no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). O curso faz parte do consórcio que oferece o Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil) da Fiocruz.

A transmissão vertical da doença de Chagas acontece de mãe para filho durante a gravidez. No estudo, Marília descobriu que Brasil, Colômbia e Paraguai abordam a enfermidade de formas diferentes e que o controle dessa forma de transmissão ainda não é abordado de forma específica. Os resultados são fruto da análise de protocolos e manuais de atuação, sistemas para registro e notificação da doença, e de estruturas de apoio à vigilância como recursos para deslocamento de equipes, campanhas publicitárias, equipamentos, material de educação em saúde e treinamento de profissionais. 

Com base nos dados analisados, a pesquisadora fez recomendações para reduzir as fragilidades encontradas. Entre elas estão a revisão de documentos técnicos sobre a transmissão vertical, o estímulo Federal à implementação de vigilância para o cuidado durante a gravidez e o aumento do envio de recursos para esse combate. Para que a população receba atendimentos mais completos durante o pré-natal, a pesquisadora indica, ainda, a necessidade de fortalecer a atenção primária de saúde e da incorporação de programas de triagem focados em mulheres em idade fértil, gestantes e recém-nascidos que estejam em contextos de risco e vulnerabilidade social.

Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde, 8 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pelo Trypanossoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas. São 21 países endêmicos e 30 mil novos casos são notificados todos os anos. A doença causa 14 mil mortes anualmente, sendo 8 mil de bebês recém-nascidos, e é considerada, assim como tantas outras, uma Doença Tropical Negligenciada

A pesquisa foi orientada pelas professoras doutoras Marly Marques Cruz (ENSP/Fiocruz) e Eliana Amorim de Souza (IMS/UFBA). A banca examinadora contou com a participação da professora doutora Andéa Sobral de Almeida (ENSP/Fiocruz) e do professor doutor Alberto Novaes Ramos Júnior (UFC).

 

Imagem: Fiocruz Imagens / Vinicius Marinho