Borrachudos são vetores da filariose em Puero Nariño, na Colômbia
Assim como no Brasil, filariose na Colômbia é uma doença negligenciada que atinge principalmente populações vulneráveis, como ribeirinhos e indígenas que vivem no departamento (o equivalente a um estado) Amazonas, não havendo um programa ou medidas para controle da doença. Esse cenário, aliado ao conhecimento de que os simulídeos são agentes transmissores da doença com diversas espécies presentes em todo o país, motivou a pesquisa Detección de Mansonella spp en simulidos en el municipio de Puerto Nariño – Amazonas, Colombia (Identificação de Mansonella spp em simulídeos no município de Puerto Nariño – Amazonas, Colômbia).
O estudo entomológico desenvolvido por Lizeth Suárez, no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), da Fiocruz Amazônia, que integra o consórcio para oferta do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz), coletou 1.293 simulídeos. Os resultados encontrados mostraram que, provavelmente, os simulídeos são o vetor de transmissão mais importante da Mansonella ozzardi, em Puerto Nariño. No Brasil eles são popularmente conhecidos como borrachudo ou pium. A maioria da amostra coletada era da espécie Simulium argentiscutum (92%) e com registro de infecção pela Mansonella ozzardi, parasita causador da filariose. A outra espécie coletada foi a Simulium amazonicum (8%), para as quais não se identificou infecção pela Mansonella.
As espécies foram capturadas com a colaboração do Laboratório Departamental de Saúde Pública, em duas comunidades ribeirinhas (Ticoya e Esperanza) e na área urbana de Puerto Mariño em 26 dias, entre os meses de junho a agosto de 2023. Nesse período, o rio que margeia a cidade - Loretoyaco - tem águas baixas, o que é propício para o aumento da população de simulídeos. Nas fases de ovo, larva e pulpa, eles se desenvolvem em ambientes aquáticos. Adultos, em ambientes terrestres.
A captura foi realizada com tubos coletores, usando iscas humanas protegidas com óleo mineral. Os insetos passaram por um processo de identificação morfológica e posteriormente dissecados e divididos em partes (cabeça, tórax e abdômen) que formaram pools. Os membros foram submetidos à extração de DNA genômico para identificação da presença do parasita. Para isso, foi realizado o diagnóstico molecular Nested PCR.
Dos 25 pools de tórax processados todos foram positivos para o verme Mansonella ozzardi. Dentre os 25% de abdômem, 20% tiveram resultado positivo para esse mesmo parasita. Já entre as 300 cabeças processadas (seis pools) detectou-se uma taxa de infecção de 1.6% para Mansonella Ozzardi.
Lizeth Suárez acredita serem necessárias outros estudos para compreender a importância epidemiológica da filariose no departamento da Amazônia, entendendo a diversidade de parasitas e vetores que podem estar envolvidos, e considerando que esse território faz fronteira com o Brasil e o Peru. A ex-aluna do Programa VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz teve como orientador o pesquisador José Joaquim Carvajal Cortes, da Fiocruz Amazônia. Fizeram parte de sua banca de defesa os pesquisadores Sérgio Luiz Bessa Luz, também da Fiocruz Amazônia, e Ana Carolina Vicente, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Imagem ilustrativa: Alan R Walker