Estudo identifica centro de Jaén como principal área de transmissão da dengue no Peru
Responsável por 80% dos casos de dengue na província de Cajamarca, no norte do Peru, a cidade de Jaén concentra em nove setores da sua área central, os locais de maior frequência de transmissão da doença. As mulheres em idade adulta são mais acometidas pela doença do que os homens e o número de casos é maior nos quatro a seis primeiros meses do ano, quando ocorrem mais chuvas e a umidade é maior nessa cidade de clima tropical. Esses dados fazem parte da pesquisa Análisis espacio temporal de dengue con estratificación de áreas de riesgo e asociación con variables climáticas en la ciudad de Jaén, Cajamarca, Perú (em português Análise espaço temporal da dengue com estratificação de áreas de risco e associação com variáveis climáticas na cidade de Jaén, Cajamarca, Peru) de autoria de Mario Vásquez.
O estudo foi realizado para conclusão do mestrado no Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia (PPGVIDA), da Fiocruz Amazônia, que integra o consórcio para oferta do Programa Educacional em Vigilância em Saúde nas Fronteiras (VigiFronteiras-Brasil/Fiocruz)
O objetivo foi avaliar o risco de transmissão da dengue nos diferentes setores de Jaén, no período entre 2018 e 2022. Para isso, foram utilizados como base de dados o número de casos de 2000 a 2022 e as características clínicas e endereços de casos registrados e georreferenciados entre 2019 a 2022. Também foram realizadas uma descrição do perfil clínico-epidemiológico da doença, bem como uma análise espaço-temporal de indicadores epidemiológicos e climáticos obtidos na web.
Com o primeiro registro de dengue feito em 1996, Jaén apresentou um crescimento acentuado da doença a partir de 2021, diferente dos anos anteriores. Vasquez atribui esse aumento as intervenções descontínuas de vigilância e controle dos mosquitos e a falta de uma cobertura ideal.
Em relação ao quadro dos pacientes, a maioria não tinha sinais de alerta e foi tratada em ambulatório, sem a necessidade de internação. Em 2019, 98,84% dos diagnósticos foram dados sem testes, não sendo possível identificar os meios usados para isso. Em 2022 esse quadro se inverte, tendo o acesso aos exames diagnóstico passado de 86%.
O tipo de dengue predominante no período de três anos foi o 2. Os sintomas mais comuns entre os pacientes eram febre, dor muscular, dor de cabeça, artralgia, dor retro-ocular, dor lombar e erupção cutânea. Esse perfil epidemiológico se manteve o mesmo ao longo dos anos.
A transmissão da dengue se mantém por um período de 3 a 4 anos, apresentando uma periodicidade menor quando ocorre a entrada de novos sorotipos em contexto climático favorável. O estudo na cidade peruana revelou, ainda, uma associação temporal entre a incidência de casos de dengue com a precipitação e a umidade relativa quando essas ultrapassam suas médias mensais, o que acontece com maior frequência nos primeiros quatro a seis meses do ano.
A pesquisa de Mario Vásquez foi orientada pelo pesquisador José Joaquin Carvajal Cortes, da Fiocruz Amazônia. Os pesquisadores Paulo César Peiter, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e Francisco Augusto da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) formaram a banca examinadora.
Foto: Acervo Fiocruz Imagens