
Papel dos egressos na transformação da vigilância em saúde é destaque em colação do VigiFronteiras e VigiLabSaúde
A cerimônia remota de colação de grau conjunta dos egressos do Mestrado Acadêmico do Programa VigiFronteiras-Brasil e do Mestrado Profissional do Programa VigiLabSaúde-Fiocruz, realizada em 8 de julho, contou com a palestra “O papel dos egressos do VigiFronteiras e VigiLab na transformação da vigilância em saúde: desafios, inovações e impactos”.
Conduzida por Tânia Fonseca, coordenadora de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, a apresentação destacou o papel histórico, estratégico e formativo da instituição para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente em um cenário marcado por emergências sanitárias e crescente complexidade dos agravos à saúde.
A coordenadora iniciou sua fala ressaltando que o conceito de vigilância em saúde adotado no Brasil difere do de muitos países vizinhos. “Ao integrar de forma contínua e sistemática a coleta, consolidação, análise e disseminação de dados para proteção da saúde da população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças, e promoção da saúde”. A partir de 2018, esse conceito foi fortalecido com a consolidação dos quatro eixos clássicos: vigilância epidemiológica, ambiental, sanitária e em saúde do trabalhador, e a incorporação de análises situacionais que reconhecem as especificidades territoriais e sociais como determinantes da saúde.
Ela relembrou que, desde então, “ficou claro que essa era uma função de Estado”, que demanda compromisso público, atuação em rede e formação contínua de profissionais, com os laboratórios assumindo um papel transversal nesse processo."Discutir VigiFronteiras e VigiLab faz o maior sentido juntos, porque as coisas se dão em sinergia”, destacou Fonseca.
Atuação fronteiriça
A palestrante também contextualizou a importância da atuação dos laboratórios de fronteira, os Lafron, que são parte da estrutura nacional de resposta aos agravos e funcionam com diferentes capacidades e níveis de comunicação com o Ministério da Saúde. “O Brasil é um país de dimensões continentais”, lembrou, explicando que há uma diversidade nos arranjos estaduais, como os “lacenzinhos”, que ampliam a capilaridade da resposta laboratorial.
Hoje, a Fiocruz conta com 52 laboratórios de referência, incluindo cinco NB3 e um NBA3 em funcionamento no Paraná — outro em fase final de construção em Pernambuco. Essa estrutura permite que a instituição ofereça uma resposta qualificada e oportuna ao SUS. “Quando falamos em resposta, estamos falando em resposta em rede”, reforçou Fonseca, destacando que a territorialização das unidades da Fiocruz permite captar e reagir de forma integrada às demandas do sistema de saúde.
As disparidades entre os sistemas nacionais de vigilância, especialmente no contexto das fronteiras, foram outro ponto destacado. Fonseca citou o exemplo do sarampo: “Temos sistemas de imunização diferentes no Brasil e na Bolívia, e um olhar para o sarampo também diferente. Isso impõe desafios à vigilância integrada”.
A coordenadora também chamou a atenção para a complexidade do cenário epidemiológico atual. A partir de uma nuvem de palavras criada com dados do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), ela apontou a diversidade de agravos em circulação, como febre amarela, leishmaniose, hanseníase, oropouche, malária e chikungunya. Mas alertou: “alguns agravos importantes não aparecem porque podem não estar sendo adequadamente registrados”.
Importância da Fiocruz
Tânia Fonseca destacou símbolos fundamentais da trajetória da Fiocruz, representados por figuras como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. “Oswaldo Cruz, que dá nome à nossa instituição, já sinalizava, naquela época, a marca da Fiocruz: pesquisa, desenvolvimento, resposta ao sistema e formação de quadros técnicos”, afirmou. Carlos Chagas, por sua vez, representa a interiorização da saúde pública, a relevância do trabalho de campo e o valor do diagnóstico no território. “A vigilância se dá ali, naquele momento e naquele local”, reforçou. Para Fonseca, esses elementos permanecem no âmago do processo de vigilância em saúde, que envolve não apenas a investigação de doenças graves, mas também aspectos como a segurança das amostras, o risco biológico, sanitário e ambiental, e a busca permanente pela conformidade técnica.
Tânia ressaltou que a atuação da Fiocruz vai além das doenças agudas e transmissíveis: “Começamos a pensar como trabalhar, por exemplo, com a população indígena, com privados de liberdade, com pessoas que vivem à margem da sociedade”. Ela reconheceu que esse processo envolveu um novo aprendizado institucional, com forte aproximação às ciências sociais e à construção de conhecimentos em parceria com as comunidades. “Estávamos falando de uma instituição que amadurecia, crescia em conjunto, porque não existe uma resposta única”, afirmou.
O que fica para o futuro?
A pandemia de covid-19, nesse contexto, funcionou como catalisadora de práticas e debates já existentes, especialmente os que envolvem o conceito de saúde única. Fonseca lembrou que mais de 60% das infecções emergentes são de origem zoonótica e que o fortalecimento de estratégias integradas entre saúde humana, animal e ambiental é inevitável. “Pós-Covid, a discussão de saúde única ganha força e ganha defesa”, afirmou.
Encerrando sua fala, ela destacou os cinco pilares da vigilância colaborativa — comunicação, colaboração, coordenação, confiança e capacitação — como base para um futuro sustentável da vigilância em saúde. E concluiu com reconhecimento aos formandos:
“É com prazer enorme que eu vejo o final de um curso como esse, com essa qualidade, e que eu tenho certeza que os egressos saem com igual qualidade. Mas percebam que essa é uma construção secular. Nossa instituição tem 125 anos”, finalizou.